33. De Guzzi a Génova

Levantámo-nos cedinho e fomos tomar o pequeno-almoço ao piso térreo da casa onde existia uma cozinha toda equipada. Lá, já estava o nosso amigo à espera para nos servir o pequeno-almoço. O tipo desenrascava-se muito bem no inglês, ainda que com um sotaque forte italiano. E tivemos ali uma agradável conversa com ele, enquanto tomávamos o pequeno-almoço: falámos um bocado de tudo, da nossa aventura, do nosso país e deste país. O tipo conhecia um pouco Portugal por causa dos veleiros, tinha como hobby velejar. Depois falámos desta loucura na estrada que são os italianos… O tipo aí concordou mas como seria de esperar aligeirou o tema… Disse-nos que cá os sinais de trânsito são meramente indicativos (LOL!) e que tinham mais de cinco tipos de polícias, mas que geralmente só levavam a cabo uma acção de fiscalização por ano… De modo que o resto do ano é à vontade, o que explica o a folga com que anda toda gente. Cambada de doidos! É curioso porque o tipo (e geralmente todos os que vimos por aqui) parecia ser muito razoável e sensato, mas deve ser como em Portugal, as pessoas atrás de um volante transformam-se…

Acabado o pequeno-almoço fomos buscar as motos e depois carregá-las com a nossa tralha, e já não devemos ter saído cedo dali.

Motas no estacionamento - Dervio, Itália

Ainda antes de nos metermos na autoestrada tínhamos de tratar de dois assuntos: primeiro passar pela fábrica da Moto Guzzi (uns quilómetros mais abaixo) e ir tirar lá uma foto, em segundo lugar passar por um supermercado e comprar uns víveres que nos servissem de almoço já depois de o barco arrancar (tal como à vinda, a única refeição incluída é o jantar).

A fábrica demos logo com ela e depois de ter arranjado um lugar para pendurar a máquina lá tirámos a foto da "moda" para a posteridade!

Moto Guzzi - Mandello del Lario, Itália

Depois, logo ali, havia um supermercado e fomos lá aviar-nos de bebida e o necessário para fazer umas sandóchas... Bem está tudo, vamos lá embora…

Ainda antes de chegar à autoestrada fizemos um bocado à beira do lago, atravessando uma série de lugarejos semelhantes aquele por onde tínhamos pernoitado... Sítio muito catita este, fantástico para se desfrutar a vida…

E finalmente a autoestrada. Nada de especial aqui. Convém também estar atento mas anda-se menos stressado que nas estradas secundárias. Fui alternando na dianteira com o Rui e fomos puxando um bocadinho para recuperar algum tempo e sobretudo para não perder mais nenhum. O Miguel estava no final e de vez em quando ia ganhando distância, talvez do cansaço ou vontade de trabalhar aquela média maravilhosa… E, de facto, foi ele que das três Tigers conseguiu os melhores consumos! Eu por nacionais acompanhava o consumo das outras, pouco mais de quatro litros aos 100, mas na autoestrada a minha Tiger era a que ficava com mais sede, provavelmente devido ao peso que carregava (julgamos que a carga maior das três) e eventualmente ao meu estilo de condução... Recorde-se que a minha Tiger e a do Miguel são da mesma geração (a mais recente, iniciada em 2015).

Algures próximo de Milão apanhámos algum trânsito. Fizemos como eles e passámos pela berma.

Finalmente já à beira de Génova apanha-se uma via-rápida que mete respeito: uma série de curvas e túneis em duas faixas que vão variando de piso mais ou menos bera, trânsito moderado com muitos pesados, e muito italiano tresloucados de um lado para outro.

Continuámos a ritmo vivo, não ficando a jeito de nenhum maluco. Nessas situações acredito que o melhor é escapar das situações perigosas e ganhar distância. Algumas das curvas eram bem redondas e aquilo dava um certo gozo de fazer.

Passámos e passaram por nós vários tipos de mota, um deles um casal numa Ducati que até ia certinho.

Mais um bocado de dança até lá abaixo e chegávamos a Génova à hora prevista. Mas depois de entrar no porto é a grande confusão… Seguimos atrás de uns italianos, mas os tipos percebiam tanto daquilo como nós e enfiaram-se por uma ponte que não ia dar a lado algum… Depois de andarmos à toa um bocadinho demos com o local de embarque onde já se apinhavam as motas. Ainda nos faltava levantar os bilhetes e onde estávamos não se percebia onde se encontravam as bilheteiras… Perguntei a um marujo que ali estava que me fez sinal lá para cima... Em cima??... Onde porra??... Depois vi que havia ali uma escada que dava para uma porta num edifício… Mas sinalização, zero! Devia ser ali dentro… Siga lá para cima antes que abale o barco!

Era mesmo. Fomos à bilheteira com a reserva pedir os bilhetes, tudo certo e volta lá para baixo!

Agora é aguardar o embarque e se for como na ida, ainda vai demorar o seu tempo…

Na verdade não demorou muito até que nos chamassem para avançar com as motas. As motas entram geralmente primeiro, pois são também as primeiras a sair e o porão do barco faz uma espécie de oval lá dentro, entra-se por um lado e sai-se pelo outro.

Da mesma forma que para cá, deixámos as malas nas motas e estas amarradas seguindo com o saco da roupa para cima. O barco era precisamente do mesmo género que o primeiro. Estava uma quantidade grande de motociclistas, uns provavelmente vindos da região por onde andámos e outros pela pinta e equipamento limpinho deviam estar na viagem de ida, provavelmente a caminho de Marrocos. E por falar nisso a quantidade de magrebinos a bordo também me pareceu bem menor… Subimos ao camarote que era exactamente do mesmo género e estendemo-nos um bocadinho, que já íamos cansados.

Depois fomos dar a voltinha da ordem. O tempo estava fantástico e estava-se muito bem lá fora…

Até um dia - Génova, Itália

Fomos ao bar beber alguma coisa e ter um bocadinho de conversa. Acho que ainda estávamos um bocado eléctricos daqueles últimos quilómetros feitos com emoção. Mais um giro lá fora e fomos para o camarote de novo. Tínhamos falado previamente em gravar uns minutos de conversa frente à câmara sobre toda esta aventura que estava já quase no fim. Sugeri que fosse uma conversa informal sobre a viagem na perspectiva de cada um. Pareceu-me que seria ali o momento certo para gravar algum testemunho. Íamos ter tempo e as memórias ainda estavam frescas. O Rui e o Miguel estavam um pouco acanhados mas depois de ter montado a câmara do Miguel no tripé e de ter lançado os temas, a prosa acabou por sair! Pena foi que a máquina tenha um limite de 20 minutos por segmento de vídeo e não nos termos apercebido disso! As gravações não ficaram completas mas, acredito, que suficiente para montar um vídeo jeitoso!

Um sumário de 5 minutos de conversa no Ferry Génova/Barcelona

E pronto, mais uma volta à barcóla e eram quase horas do jantar, que foi nos mesmos moldes do primeiro para cá: muito mauzinho… Parece-me que havia também um espectáculo marroquino de não-sei-o-quê que passámos. Estávamos um bocado moídos e amanhã tínhamos uma boa quantidade de quilómetros a fazer debaixo de calor segundo previa a meteorologia... Então vamos ao descanso!

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