30. Grossó-coiso-e-tal

Muitas motas para cá e para lá, mas nada em número exagerado, o custo da portagem tem o efeito de racionar o trânsito. Outra paragem obrigatória no miradouro de Kaiser-Franz-Josefs-Höhe a 2369 metros com vista privilegiada para a montanha do Grossglockner (3798 metros, a mais alta da Áustria) e para o glaciar Pasterze, que com 8,4 quilómetros de comprimento é o maior dos Alpes Orientais...



Miradouro Kaiser-Franz-Josefs-Höhe - Grossglockner, Áustria

Este miradouro é baptizado em homenagem ao Imperador austríaco do mesmo nome que em 1856 após uma longa caminhada também aqui contemplou o glaciar e a montanha... Tudo grandioso e soberbo, difícil de descrever por palavras. Felizmente ficam as imagens, a paragem aqui é absolutamente obrigatória!

Vale glaciar - Grossglockner, Áustria

Glaciar Pasterze - Grossglockner, Áustria

Mais uns quilómetros desta estrada fabulosa e chegamos a Lienz, uma vila já de boas dimensões. Optámos por seguir o itinerário planeado e não fazer o regresso a Norte pelo mesmo sítio, passando ao lado do Grossglockner pela estrada do Felbertauern. Esta estrada é bem diferente da outra, é essencialmente uma recta longa que atravessa um lindíssimo vale. Às tantas, atrás de nós colaram-se duas ou três motas estilo café racers com uns condutores maduros equipados a rigor: que é como quem diz, penico na cabeça, blusão de cabedal e calças de ganga. Estávamos a rolar a bom ritmo sempre dentro dos limites permitidos, e os nossos amigos a acompanhar atrás. Íamos ultrapassando os carros sempre que dava e os racers faziam o mesmo. A dada altura surge um camião à nossa frente que conseguimos passar os três sem problemas… os camaradas que iam atrás de nós, entusiasmados tentaram fazer o mesmo logo atrás de nós, mas claramente falharam nas contas pois foi por pouco que não foram apanhados… Totalmente desnecessário! Na subida até à portagem (sim, aqui também se paga: 10 euros) distanciámo-nos um pouco deles. A portagem está no início de um túnel com cerca de 6,5 quilómetros de comprimento. Do outro lado a estrada continua, um pouco mais curvilínea. O cenário continuava fabuloso, sempre rodeados por grandes cordilheiras montanhosas…

Havia ali ainda um desvio a fazer, para um local que tinha enfiado no percurso. Saímos da estrada principal para apanhar uma estrada secundária do lado oposto. Um caminho rural estreito com o piso irregular nalgumas zonas, mas sempre alcatroado. Fomos andando por ali fora com agrado. Um ambiente campestre de montanha com algum gado a pastar neste maravilhoso cenário verde ao nosso redor… Mas o melhor estava para vir! Ao cabo de 2 ou 3 quilómetros chegámos ao ponto que tinha marcado, deixámos as motas numa espécie de parque de estacionamento e subimos uma ladeira. E raios parta, ficámos boquiabertos com o que estava do outro lado… Melhor que tentar descrever é deixar de seguida uma foto!

Hintersee, Áustria

Bom desvio este, vale bem a pena! Fiquei a pensar na quantidade de recantos como este que por aqui não devem faltar... O lago à nossa frente é o Hintersee, está situado a 1313 metros de altura e com 550 metros de extensão é considerado um dos maiores lagos da região. Com tanto sítio acabado em See tínhamos percebido que a palavra surge associada a lago. Pois em alemão é mesmo assim que se diz, e esta é a língua oficial na Áustria.

Águas transparentes do lago - Hintersee, Áustria

Atenção que existe outro Hintersee mais popular e conhecido que se situa na Alemanha e que nada tem a ver com este lugar.




Faltava uma destas - Hintersee, Áustria

Não estávamos sozinhos, havia ali um rapaz e um miúdo mais novo que mais tarde se aproximaram de nós. O mais velho (com vinte e tal anos) meteu conversa e falava muito bem inglês Tinha uma pinta estranha, perguntou-nos logo se éramos portugueses. Mesmo não falando a nossa língua esteve a ouvir a nossa conversa e pelo som percebeu que seríamos portugueses… É esperto este fulano! Ficámos a saber que era um judeu austríaco e que o miúdo mais novo era seu irmão e que já tinham vivido uns tempos na Suíça. Falámos um pouco das voltas que já tínhamos dado e da nossa experiência em Auschwitz. Achei curioso o facto de ele nunca lá ter estado apesar de referir ter tido família lá aprisionada e de ter ouvido relatos na primeira pessoa. Mais estranho ainda, não demonstrava grande vontade de conhecer… Outra coisa que nos disse é que, segundo ele, na Europa não existia lugar mais verde que a Áustria. E é capaz de não andar longe da verdade, efectivamente tudo por aqui é verdíssimo. Passámos ali um quarto de hora a falar com ele antes de voltar às motos. Descobrir este bocadinho de paraíso escondido soube maravilhosamente.

Última foto - Hintersee, Áustria

Voltámos ao nosso percurso, uma estrada fácil e tranquila pelo meio de uma zona mais ou menos rural. A estrada por onde circulávamos já estava na sombra com o Sol a querer sumir por detrás do cenário montanhoso à nossa volta. Gosto muito de ter esta sensação de fim-de-dia num cenário destes. Estes instantes onde a luz é mais suave e quente dão um colorido ao horizonte inesquecível.

Finalmente estávamos a aproximar-nos de Neukirchen uma povoação que é conhecida também por ser de Inverno uma estância de esqui nos Alpes austríacos. E de repente começámos a ver à beira da estrada uns estandartes enormes da Triumph… Olha, queres ver que já sabem que estamos por aqui… E ainda dizem que os austríacos não são hospitaleiros!

Bem, na verdade Neukirchen é o local onde se realiza o evento Tridays da marca Triumph. Um encontro anual de proprietários por esta região da Europa. É uma festa grande organizada pela própria marca e durante um fim-de-semana os triumphistas apoderam-se deste local. São bandeiras por todo o lado e praticamente todo o alojamento está reservado às estadias dos triumphistas… O local onde iríamos ficar era uma espécie de guest-house. Na verdade tratava-se de um chalé onde vários quartos eram alugados, sendo que os proprietários (um casal nos seus 40 e muitos, 50 e poucos) viviam no piso superior. Deixámos as motas no alpendre da casa onde já estava uma Tiger Explorer de matrícula alemã. Fomos amavelmente recebidos pela proprietária que falava relativamente bem inglês. Levou-nos ao interior da casa, até ao nosso quarto no primeiro piso e de caminho conhecemos o proprietário que não fala a ponta de um chavelho de inglês. Depois o tipo levou-nos à cave para nos mostrar onde poderíamos deixar o equipamento a secar. O homem tinha ali montado um sistema de secagem para roupa no Inverno. Sendo Neukirchen uma estância de Inverno, claramente a época alta daqui é em Dezembro. Daí estarem preparados para estas coisas… Mas nós dispensámos a cena, não tínhamos a vestimenta molhada e as botas deixámo-las na varanda. O quarto era do tipo familiar mas não muito grande para três galalaus como nós. Ainda assim era suficiente, havendo uma cama de casal e um beliche… Felizmente hoje ninguém teria de improvisar camas!

Trocámos de roupa e fomos dar uma volta pela aldeia para ver o andamento dos preparativos. Estávamos na Terça-feira à noite e o evento iria começar na Quinta-feira, de modo que estava já quase tudo no seu lugar e já se notava pessoal a circular por aqui. Fomos até ao centro da povoação que ficava logo ali a poucos metros. Já ali estavam uma série de coisas montadas e os restaurantes já estavam cheios de triumphistas. Demos por ali uma volta, mas tirando meia-dúzia de Triumphs estacionadas não havia muito mais para ver. As opções para jantar também não eram muitas. Aproximámo-nos de um restaurante com uma esplanada que parecia agradável e tranquila… E… Olha, era uma pizzaria… que surpresa… À falta de melhor tivemos de comer mais umas! Que por acaso não achei nada más, talvez mesmo as melhorzitas de todas que emborcámos até agora… Estava bem agradável esta esplanada.

Terminado o jantar fomos esticar as pernas andando ali às voltas pelo local. Mas já estava noite cerrada e já pouco se via fora da rua principal. Regressámos ao nosso chalé para um merecido descanso. Amanhã outro dia forte, a travessia do Stélvio.

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