28. Pelo Danúbio Acima

Era a segunda noite neste hotel, mas desta vez troquei o colchão defeituoso pelo que ainda sobrava, e que raios nada a ver um com o outro… Com 325 quilómetros para fazer hoje debaixo de chuva, bem que precisava de descanso nas costas.

E amanheceu chuvoso, como se previa… Grande nóia... Se há coisa que não gosto é vestir o equipamento e meter-me logo debaixo de água… Bem, mas ainda temos de comer qualquer coisa antes. Desta vez não fomos à rua, tomámos o pequeno-almoço no hotel. E vai de vestir os forros todos, meter as malas nas motas e fazermo-nos ao caminho.

A saída de Viena foi como a chegada, com muita emoção… Falta um bom bocado de bom senso na estrada a esta malta! Só começámos a relaxar já fora da loucura da grande cidade. Estava a chover razoavelmente mas pior, não se via jeitos de parar. Assim o equipamento não seca vai ensopando e ao fim de umas horas a água começa a infiltrar-se

A ideia para hoje era seguir a Norte de Viena pelo vale do Danúbio (ou Wachau), sempre junto ao rio até Melk e visitar uma outra cidade medieval nas suas margens. O problema é que com toda esta chuva não apetece ver cenário... O que é pena, pois este percurso bem merece uma visita mais cuidada... Fomos tranquilos, que uma estrada nestas condições assim o exige!

Passámos por várias pequenas vilas sempre por estrada nacional. Às tantas parámos junto a um banco para levantar dinheiro. Já estávamos bem encharcados e eis que vem à porta do banco um funcionário de bigode convidar-nos para entrar e beber um café… O tipo não falava inglês mas deu para entender o convite… Olha, tenho dúvidas que no nosso país acontecesse a mesma coisa! Mais uma prova de que nem todos os austríacos são trombudos! Tivemos de agradecer recusar amavelmente. Já estávamos todos equipado e molhados e já só queríamos ir andando. Levantámos na máquina no exterior os euros que precisávamos…. E vamos embora fazer mais um bocado disto!

Foi já com muita chuva no lombo que chegámos à marginal junto ao rio. Deveria ser bem bonito fazer isto noutras condições. Com este tempo é para esquecer, melhor manter o ritmo estrada fora e chegar em tempo útil ao destino.

Seguia à frente e de repente deixei de ver o Miguel que vinha atrás do Rui. Encostámos os dois para aguardar que ele aparecesse ao virar da curva, mas nada… Demos meia-volta e fomos à procura dele. Encontrámo-lo parado à beira da estrada à volta do capacete, tinha-se lhe despregado a viseira. Nada de grave, só questão de colocá-la de novo no sítio. Passámos as encantadoras vilas de Krems e Dürnstein sem sequer parar, não valia a pena. E quando chegámos a Melk fomos ao centro à procura de almoço.

Abadia Beneditina de Melk - Áustria



Não encontrámos melhor que uma pizzaria de uns turcos… Vamos lá a outra pizza que já há pelo menos dois dias que não comemos nenhuma!




Melk, Áustria

Fomos lá para dentro, o restaurante era pequeno, pendurámos casacos e luvas que estavam a pingar depois de andar umas horas valentes à chuva. Eu por esta altura já tinha água nas cuecas!

No entretanto chegou algum pessoal dos barcos: um grupo de velhotes ingleses que teriam desembarcado de um destes cruzeiros turísticos que anda rio acima, rio abaixo. Estavam ali também para almoçar. Papámos as pizzas que serviram bem para enganar a fome e para fechar uma espécie de cheesecake de sobremesa.

Antes ainda de voltar às motas tive de trocar de t-shirt porque a que tinha vestida não tinha secado.

A partir de Melk iríamos começar a rumar para Sul, atravessando o parque nacional de Gesäuse, uma cordilheira montanhosa com altitude máxima de 2.370 metros… Ainda antes, um bocado de autoestrada e estávamos a entrar em floresta densa. A estrada começou a cirandar pela montanha sempre com muita vegetação ao nosso redor e volta não volta com um curso forte de água ao nosso lado. Mas infelizmente pouco apreciámos do cenário com este céu escuro e esta carrada de água sobre as nossas cabeças! Ainda para mais o piso estava muito bera. Tinha ideia que as estradas por aqui estariam todas em excelentes condições, mas é bolos! Globalmente é igual aos outros sítios e há aqui bocados bem ruins, mais desagradáveis que as piores nacionais que temos em casa. De maneira que já só queríamos chegar ao destino, tomar uma banhoca e relaxar um bocado. Felizmente já quase no fim da jornada o São Pedro cá do sítio resolveu dar uma trégua e os últimos quilómetros foram já percorridos com piso seco.

Era suposto ficarmos à beira do lago Hallstättersee mais precisamente na localidade de Obertraun que fica praticamente do lado oposto ao de Hallstatt. Fabuloso cenário natural enfiado na montanha, mas no meio de tanto pinheiro, a única água que avistámos por aqui foi a que vinha do cima... Depois a estrada começou a descer acentuadamente com curvas bem redondas e finalmente com vista desafogada percebemos que estávamos a chegar. Entrámos com cautela no pequeno lugar à beira lago e seguimos logo para perto do lago. Parámos as motos e fomos espreitar.

Acabados de chegar - Obertraun, Áustria

Hallstatt ao fundo - Obertraun, Áustria

Depois fomos à procura do hotel que estava ali logo a uns 20 metros ,uma espécie de grande chalet à beira lago. Local fantástico! Deixámos as motas no parque de estacionamento à porta e fomos fazer o check-in.

Vista a partir do hotel - Obertraun, Áustria

Entrámos e connosco também um grupo grande de chineses que devia estar em excursão. Calhou-nos uma habitação no último piso de três pisos no total. Um quarto com duas divisões, cada uma com duas camas. Como sou o gajo que faz mais barulho de noite fiquei com uma divisão só para mim! Apressámo-nos a colocar o equipamento em cima dos aquecedores, mas parecia que não estavam a mandar grande calor… Daqui de cima dava para ver o lago, e para lá iríamos depois de tomar os merecidos banhos. E que cenário do cacete! Estávamos já em fim de dia, com um tímido Sol de fim de dia a escapar-se por detrás da montanha. Este ambiente de luz a extinguir-se conferia uma soberba tranquilidade à cena e a quase ausência de vento permitia o efeito de espelho de água à superfície do lago.



Panorâmica para Hallstatt - Obertraun, Áustria

Hallstatt - Obertraun, Áustria

Uma ou duas horas mais cedo com a luz a dar de costas e seria o cenário perfeito para a fotografia!


À pesca - Obertraun, Áustria

Mesmo assim conseguiu-se tirar chapas valentes do local.






Miguel a ser simpático e a fazer de fotógrafo - Obertraun, Áustria

Com o Sol a ir-se começou também a sentir-se o frio e já que ali estávamos optámos por jantar no restaurante à beira lago...

Obertraun, Áustria

Se a comida não for grande espingarda, sobra-nos a vista para nos contentarmos! Não havia muitas opções no menu, o restaurante era pequeno mais ao género snack-bar.

Mandámos vir o prato austríaco mais famoso, o Schnitzel: é basicamente um panado de porco servido com batata frita, e creio que diz muito da cozinha austríaca. Deve haver melhor com certeza, mas a verdade é que as grandes especialidades daqui são salsichas e panados de porco... Ora salsichas há em todo o lado e panados a mesma coisa... Nada de especial ou original.

Para fazer todo o serviço estava uma matulona loira pouco simpática e com um dos braços engessados… A propósito, durante toda a viagem não me lembro de ter ficado impressionado com a beleza das mulheres austríacas… São tipicamente louras com traços e formas pouco delicadas... Mas pronto fica a nota e o facto de com certeza não me passaram todas à frente dos olhos.

 
À beira lago - Obertraun, Áustria

Pedimos o Schnitzel que veio sem demora (já deviam estar em stand-by na cozinha). Resumindo, salvou-se a soberba vista sobre o lago e a sobremesa, já que a febra panada não impressionou em nada.

Montanha do Krippenstein com 2108 metros de altura - Obertraun, Áustria

Voltámos ao hotel para o merecido descanso… Vejamos se o tempo amanhã se segura para podermos subir até à mítica estrada alpina do Grossglockner



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