Confesso que por esta altura, já sentia um sério desconforto... Mas a visita ainda não estava concluída. Tínhamos ainda o museu no Campo original (Auschwitz I) para ver a cerca de 2 quilómetros daqui. Regressámos ao parque e passámos pela loja onde tinham ficado os capacetes e blusões. A saída do estacionamento foi feita como a entrada, com um só bilhete na mão as três motas tiveram de passar alinhadas sob a cancela.
As visitas ao museu são livres a partir das
15h00, no entanto têm de ser agendadas. Estava uma fila considerável para entrar. O nosso bilhete estava precisamente para as
15h00, mas com esta quantidade de gente à nossa frente, estava difícil cumprir o horário… Bem, na verdade não demorámos muito a chegar à porta e a conseguir entrar. A entrada faz-se passando por um detector de metais (como nos aeroportos) com a monitorização dos tais “
Polícias do Museu”. Com a quantidade de gente doida que anda por aí facilmente se compreendem estas medidas de segurança.
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Auschwitz I, Polónia |
Depois passa-se por uns corredores que nos conduzem novamente ao exterior e à entrada do Campo. Avista-se logo o austero pórtico da entrada com a inscrição “Arbeit Macht Frei” (O Trabalho Liberta) muito presente nas fotos turísticas.
Do lado direito deste, junto à vedação de arame farpado estão uns marcadores que serviam para os fuzilamentos.
Chega a ser um pouco irónico. Estas antigas construções que no passado foram utilizadas para atrocidades, estão hoje a ser usadas para documentá-las ao mundo. Não irei descrever o que vimos em cada um, pois são de facto muitas exposições. No mínimo é preciso uma tarde para visitar todo o museu, e isto sem perder muito tempo em cada lugar. Tal a dimensão deste absurdo, ignóbil e abjecto momento da história humana aqui perpetuado.
Ainda noutro, estão recriadas por várias salas as celas reservadas aos prisioneiros, conforme a sua evolução ao longo do tempo. A primeira não tinha mais que alguma palha no chão. Na última, já se conseguem ver beliches de madeira mal-amanhados. Pelo meio está também a reconstituição de uma latrina, de quarto de banho e de uma das salas dos guardas, onde seriam torturados e interrogados os detidos.
A exposição mais marcante será sem dúvida aquela dedicada às provas do
Holocausto. Trata-se de um pavilhão onde em cada sala estão reunidos atrás de vitrinas - ou melhor dizendo, amontoados - os pertences dos prisioneiros que por aqui passaram.
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Auschwitz I, Polónia |
Numa sala estão expostos talheres, alguns toscos que se percebe ali terem sido fabricados. Noutra estão pratos e tachos em esmalte, e noutra uma pilha de sapatos gastos.
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Auschwitz I, Polónia |
Há ainda objectos de higiene pessoal, como pentes e ganchos. Atrás de outro vidro, centenas de próteses de pernas e braços e mais adiante uma pilha de óculos. Também numa sala estão expostas as malas com que alguns prisioneiros chegaram ao campo, muitas com os nomes escritos por fora. Tudo extremamente perturbante…
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Auschwitz I, Polónia |
Mas o soco no estômago chega quando se entra na sala onde, por detrás de um vidro largo, está exposta uma enorme quantidade de cabelo humano, rapado da cabeça dos que aqui estavam. Este cabelo servia como matéria-prima para a produção têxtil. Aquando da libertação de
Auschwitz foram encontradas cerca de
7 toneladas de cabelo humano em armazém.
Noutro edifício estava patente uma exposição onde nas paredes tinham sido recriados pelo artista
Michal Rovner os desenhos das crianças que estiveram aqui aprisionadas. Estima-se que cerca de um milhão e meio de crianças judias terá sido assassinadas durante
Holocausto, muitas deixando poucas evidências da sua existência. No
Campo foram encontrados vários desenhos nas paredes dos blocos estando aqui recriados alguns destes nas paredes desta sala.
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Reprodução de desenhos - Auschwitz I, Polónia |
Quase no final chegámos ao infame
Bloco 11. Famoso no pior sentido pois aqui se perpetraram provavelmente as maiores atrocidades. Este edifício era considerado uma prisão dentro da prisão e estava reservado ao castigo por ofensas consideradas graves, como tentativa de fuga ou sabotagem no
Campo. Também aqui eram guardados prisioneiros políticos até ao seu julgamento, sendo igualmente julgados no mesmo edifício.
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Bloco 10 e 11 - Auschwitz I, Polónia |
Entre o
Bloco 10 e
11 estava uma parede de betão onde eram feitas as execuções por fuzilamento. Foi destruída com o final da
Guerra, mas foi entretanto reconstruída.
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Muro de fuzilamento - Auschwitz I, Polónia |
O
Bloco 11 estava equipado de salas especiais para diversas torturas, como uma câmara escura onde um prisioneiro ficaria fechado durante vários dias, e quatro celas com cerca de
1 metro quadrado onde eram alojadas
4 pessoas de cada vez. Nestas, os prisioneiros eram obrigados a ficar em pé havendo apenas uma abertura de
5 por
5 centímetros para não sufocarem. Tipicamente o castigo era aplicado durante um período de
10 dias, sendo que durante o dia os prisioneiros estariam sujeitos a trabalhos forçados. Foi também aqui que se efectuaram as primeiras experiências com o
Zylkon B. Tudo é praticamente visitável e o acesso às celas e câmaras de tortura (no sub-solo) é feito em fila indiana de tão acanhado. Apesar de haver iluminação suficiente, o aspecto é escuro, opressivo e sufocante.
Já cá fora ainda é possível visitar o interior do
Crematório I, ou melhor a reconstrução parcial do mesmo uma vez que o interior foi desmantelado em
1943.
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Interior do Crematório I - Auschwitz I, Polónia |
Saímos dali com a alma pesada. Na verdade, já o esperávamos. É difícil ficar insensível a este testemunho de carnificina em tão larga escala. Passar por aqui e assimilar o nível de terror que aqui se viveu, não deixa ninguém indiferente. A experiência não é agradável (nunca poderia ser) e no final só nos apetece sair dali e fugir. A energia negativa do local é tremenda e quase fisicamente palpável… Atenção, não estou com isto a desaconselhar a visita, antes pelo contrário. Todos os que tenham a oportunidade devem passar por aqui e ver as coisas pelos seus próprios olhos. Por muito descritivo que o meu relato seja não chega para descrever convenientemente a experiência… Nem mesmo lendo nos livros ou vendo na televisão não tem nem de longe, nem de perto a escala que é testemunhar o local… É uma experiência marcante que nos faz questionar sobre o que o ser humano é capaz e nos deixa um sentimento de repulsa e nojo deste local ou melhor, da sua história e do que significa.
O que estávamos a precisar era mesmo rolar de ventas ao vento para arejar estas cabeças. E os
300 e picos quilómetros pela frente de regresso à
Eslováquia vinham mesmo a calhar. A primeira parte do percurso foi bastante agradável, com umas estradas secundárias e um troço pequeno junto a um bonito lago. Depois o resto do caminho foi feito por vias-rápidas. Já a chegar à fronteira trocámos os últimos
Zlots (moeda polaca) que tínhamos em combustível. Próximo das
20h00 chegámos à fronteira e pouco depois entrávamos na cidade eslovaca de
Čadca. Nada impressionante, uma típica cidade industrial cinzenta, ainda com resquícios de sovietismo. O hotel enquadrava-se no espírito.
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À porta do hotel - Čadca, Eslováquia |
Um edifício antigo, com pelo menos
40 anos e com uma recauchutagem parcial mais ou menos recente… Uma reforma do género mais ou menos aqui, mais ou menos ali… E também na recepção estava uma jovem mais ou menos profissional… Fez-nos pagar a logo a totalidade das estadias. Dois quartos, cada um com duas camas… Dado o preço em conta, aqui não teríamos de improvisar camas. Eu fiquei com um quarto só para mim, para poder ressonar à vontade... que gostoso! O
Rui e o
Miguel ficaram com o outro. Para variar, os quartos eram gigantes, assim como as casas de banho que tinham também uma banheira gigante em formato de quarto de
Lua… A sanita era normal, graças a
Deus! A mobília tinha um certo ar retro e havia uma longa varanda envidraçada que corria toda a frente do quarto. Despachámo-nos a descer e a ver do jantar, pois pelos jeitos as opções por aqui não seriam muitas… É pá genial! Uma praça com duas pizzarias!… Entre a mais adiante na praça e a do hotel ficámos com a do hotel… O
Miguel acabou por escolher um prato de carne qualquer, eu e o
Rui fomos à rodela de pão com tomate: nem bom, nem mau… antes pelo contrário. Eu nem acabei a minha…
Aqui o pessoal deita-se cedo. Pelas 22 horas parecia já não haver ninguém na rua. Também não ficámos por lá e recolhemos aos quartos do hotel. Ainda liguei o televisor por curiosidade… Só sintonizava um canal onde estava a dar um filme… O comando estava sem pilha e aquela hora faltou-me pachorra para andar a domesticar o descodificador… Boa noite e um queijo eslovaco!
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