Acordámos a hora boa para arrumar a tralha. O Miguel já devia estar a pé há mais de uma hora, andava a bater mal com os horários. Toca de enfiar tudo nas malas para levá-las amontoadas lá para baixo naquele elevador diminuto até à garagem. Seguimos a instruções. Fechámos a porta do apartamento (verificando bem previamente, se não tinha ficado nada nosso lá dentro), metemos a chave na caixa de segredo, fechámos aquilo e baralhámos a combinação. Na garagem pagámos o estacionamento ao tipo que lá estava. O homem não falava inglês, mas era simpático e o preço já estava combinado, não houve qualquer dificuldade.
Próximo destino Eslováquia. Um bom bocado de curiosidade no que iríamos encontrar pela frente. Tínhamos todos a ideia que as coisas por lá estariam um bocado mais “atrasadas” e que os sinais da Era soviética seriam por demais evidentes.
O dia estava bom, nada daquelas chuvadas do dia anterior. Fresco ainda, mas o Sol já raiava. Demos umas voltas por aquelas ruas de prédios altos até chegar à beira rio, daí para o outro lado pela ponte das correntes. Havia uma paragem planeada para tirar uma última foto ao Parlamento, mas não se conseguiu arranjar lugar para as motas e seguimos para Norte para a saída da capital. A ideia era tentar seguir o Danúbio até à fronteira da Eslováquia. Mas nem sempre se vai junto a este e a saída de Budapeste é feita por uma via-rápida.
Ainda não tínhamos comido nada e não estava fácil encontrar lugar para tomar um pequeno-almoço. O Miguel já devia estar a bater mal, o homem não se aguenta muito tempo de manhã sem açúcar e café! Consegui enxergar o que me pareceu um supermercado e saímos para lá ir espreitar. Era mesmo um supermercado pequeno. Mas melhor, ao lado deste existia uma espécie de padaria e pastelaria que também servia café. A rapariga que lá estava era bem simpática e embora não falasse quase nada de inglês esforçou-se no serviço e acabámos por tomar um pequeno-almoço bem satisfatório e a bom preço numa pequena esplanada improvisada em frente à padaria.
Voltámos à via-rápida que foi estreitando e transformando-se em estrada secundária. Próximo de Budapeste notava-se algum trânsito, mas nada de especial. Depois começou a surgir vegetação densa à nossa volta e umas quantas vivendas que não mostrando grandes luxos estavam bem acabadas. Passámos por uma série de pequenas localidades e já mais adiante começámos a avistar água do nosso lado direito através das árvores. Estávamos, como previsto, a rolar junto ao rio numa estrada bem agradável pelo meio do arvoredo.
Fizemos uma paragem rápida junto a umas casas, o Miguel queria tirar umas fotos ao rio.
Margem do Danúbio - Hungria |
A passagem para a Eslováquia seria feita sobre o Danúbio que a Norte serve de fronteira. A ideia seria ir até à cidade de Esztergom (ainda do lado húngaro) fazer uma breve paragem junto à enorme Basílica da Abençoada Virgem Maria e atravessar a ponte sobre o rio que nos leva à Eslováquia.
Este templo é considerado o maior edifício público na Hungria com 5.600 metros quadrados de área interior e um tempo de reverberação de 9 segundos!
Basílica da Abençoada Virgem Maria - Esztergom, Hungria |
Queríamos também tirar uma foto à placa de fronteira para marcar o momento.
O problema é que a placa está pendurada ao meio da ponte, de maneira que passou-nos logo a ideia. Estávamos também à espera de algum controlo fronteiriço por causa da situação recente de refugiados, mas a verdade é que nada… nem sequer um polícia.
A partir daqui iríamos sempre para Norte, atravessando a Eslováquia de ponta-a-ponta. A primeira impressão foi boa. Entrámos por uma região rural interessante com campos a perder de vista. A agricultura por aqui parece ser intensiva. Viam-se hectares e hectares de área cultivada. De vez em quando passávamos por uma aldeiazita. Mas tudo o que víamos não estava assim muito recuado no tempo. As construções eram simples e práticas, sem qualquer tipo de breloque, num estilo industrial a relembrar a influência comunista. Aqueles telhados em chapa de zinco e paredes em tons fabris de beges, azuis, cinzentos, acabavam por ter algum charme.
Os carros aqui não são muito diferentes da Hungria: chaços é raro vê-los e a maioria são Skodas com 5 a 10 anos (não fosse a fábrica estar já aqui ao lado, na República Checa). O pessoal na estrada anda certo, e por aqui os faróis têm de andar acesos também durante o dia. Ah… vê-se pouca mota na estrada, e o que aparece não tem matrícula eslovaca.
Reminiscências soviéticas (Miguel) - Eslováquia |
Os carros aqui não são muito diferentes da Hungria: chaços é raro vê-los e a maioria são Skodas com 5 a 10 anos (não fosse a fábrica estar já aqui ao lado, na República Checa). O pessoal na estrada anda certo, e por aqui os faróis têm de andar acesos também durante o dia. Ah… vê-se pouca mota na estrada, e o que aparece não tem matrícula eslovaca.
Algures - Eslováquia |
Muito agradável este troço pelo Sul da Eslováquia. Soube muito bem fazer esta estrada atravessando esta região campestre, plena de vegetação rasteira. Víamos áreas cultivadas a perder de vista, o pessoal aqui é do trabalho. O cenário começou a mudar quando nos aproximámos de Banska Bystrica, sexta cidade mais populosa da Eslováquia. Atenção que este país é pequeno, cerca de 5 milhões de habitantes (metade de Portugal). Bystrica terá cerca de 80 mil, qualquer coisa aproximado à população de Torres Vedras.
Praça principal - Banska Bystrica, Eslováquia |
Estava na hora do almoço e tínhamos uma paragem planeada no centro de Bystrica, assim resolvemos juntar o útil ao agradável. Sentámo-nos numa esplanada da praça, e adivinhem o que era? Mais um restaurante italiano, claro!... Chiça… é que já farta… Não há por aí um bom bacalhau?! Ou um bife com ovo a cavalo, caraças?!
Eu tentei variar dentro do invariável, e pedi um risotto… No interior o restaurante tinha um ar modernaço, mas preferimos ficar cá fora para apreciar o sítio.
A praça era bem bonita, com casas típicas de dois ou três andares em redor, e no topo uma igreja com uma torre generosa.
Na praça estava também instalado um fontanário impressionante de pedra junto a um obelisco negro erigido em memória dos soldados russos e romenos que sucumbiram na libertação da cidade em 1945.
Veio a comida, e foi uma agradável surpresa. Os preços dos pratos eram manifestamente baixos, mas o que chegou à mesa não reflectia nada disso. Tudo bem servido e confeccionado. Evidentemente para ficarmos totalmente saciados veio também tiramisu e uns cheesecakes de limão de sobremesa, que estavam ao nível do restante. Creio que terá também terá sido das melhores sobremesa que nos chegou aos dentes durante toda a viagem.
Entretanto o tempo estava a mudar e parecia que vinha trovoada a caminho.
Felicidade em forma de açúcar (Daniel) - Banska Bystrica, Eslováquia |
Café servido em almoçadeiras - Banska Bystrica, Eslováquia |
Entretanto o tempo estava a mudar e parecia que vinha trovoada a caminho.
Bystrica está mais ou menos encalhado junto a uma cordilheira montanhosa conhecida por Baixo Tatra (700 a 800 metros de altitude). Baixo porque claro está, há também o Alto mais a Nordeste e que se divide entre Eslováquia e Polónia. Íamos de seguida atravessar o Baixo Tatra. O Alto estava fora de rota, não nos dava jeito por lá passar.
A paisagem estava a mudar, vegetação mais alta amontoada nas colinas à nossa volta. Não seria propriamente o encanto de alta montanha, mas era um cenário muito agradável também. A estrada era divertida e ia alternando com uns troços de curvas rápidas e alguma estrada a direito. Volta não volta, íamos vendo um ribeiro à beira da estrada, e sobre este umas pontes de madeira engraçadas. Parámos numa para bater um retrato.
Só as miúdas - Eslováquia |
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