17. Peste Boa


Embora tivéssemos desejado de véspera que se tivessem enganado, as previsões meteorológica estavam a confirmar-se. Acordámos com um céu cinzento e uma bela de uma chuva pegada.

E nós que estávamos a planear ir de manga curta, bem nos lixámos e tivemos de sair com impermeáveis. Toda a sacana da logística muda quando chove. Ainda para mais a temperatura até estava agradável o que implicava forçosamente que ao fechar os impermeáveis começasse a fazer um calor atroz dentro deles.

Mas, primeiro tratar de procurar pequeno-almoço. Que não foi fácil diga-se de passagem. Café com leite não é o forte por aqui, o pessoal governa-se mais à noite com cerveja. Andámos um bom bocado à procura de uma pastelaria ou algo do género, e quando estávamos prestes a despachar o pequeno-almoço à base de bolos americanos numa cadeia de fast-food, eis que nos aparece uma loja pequerrucha onde se fazia fila para se escolher um pão e algum bolo que estava exposto no balcão.

A coisa não devia ter mais que 5 metros quadrados. O balcão estava encostado ao fundo onde estavam duas Húngaras a aviar (bolos, pois está claro!). Nas laterais duas ou três mesas altas de tampos pequenos, acompanhadas com aqueles bancos em que se fica praticamente de pé encostando apenas à parte de cima dos fundilhos do rabo. Bolas, a oferta de bolarada era boa, vai ser mesmo aqui!

A coisa não se destinava a turistas, de modo que as tipas não falavam ponta de inglês e também não estavam ali para floreados. Basicamente tivemos de apontar com o dedo o que queríamos. Café em copo de plástico e um bolo (dois para o Miguel que ele de manhã dá-lhe a fome) e está feito. Direcção metropolitano.

Estávamos a seguir um itinerário desenhado pelo Rui (nada melhor como confiar em alguém que já por aqui esteve). A ideia seria apanhar o metro até aos banhos turcos (sem turcos de preferência), para depois descer de novo em direcção ao rio.

O metro impressiona. Os bilhetes são uma tirazita de papel fina com uns caracteres impressos. À entrada do cais, estão três funcionários mal-encarados de mãos nos bolsos que picam o bilhete com um obliterador manual da velha guerra. E as carruagens são um misto entre um metro de superfície moderno e um cangalho velho. Pequenas e velhas, mas às quais se fez um leve face lift recente. O metropolitano de Lisboa, dá 15 a zero ao de Budapeste… Na boa.



Talvez não seja alheio o facto do metro de Budapeste ter sido o primeiro a surgir na Europa Continental (foi inaugurado em 1896, 33 anos depois do metro de Londres). Mesmo assim, continua a servir o seu propósito. É rápido, em conta e num instante estávamos a sair na estação que pretendíamos.

O tempo é que continuava nada de jeito. Céu cinzento e umas pingas leves. Fomos só espreitar a entrada do edifício dos banho, uma vez que o acesso ao interior é pago, como seria de esperar. Convém dizer que Budapeste é a única capital no mundo com águas termais. Conta com cerca de 125 nascentes que produzem 70 milhões de litros de água termal por dia… É obra!

Entrada para as Termas - Budapeste, Hungria

E a chuva começa a cair forte quando estávamos próximos do museu da agricultura. Museu este que ocupa um sumptuoso castelo apalaçado conhecido por Castelo de Vadjahynyad. Abrigámo-nos debaixo do arco da entrada e ficámos ali um bocado à espera que acalmasse. A chuva finalmente amainou, mas não seria a última que iríamos papar ainda hoje. Em redor do castelo está o parque da cidade de Budapeste (conhecido como Városliget) um formidável jardim decorado com várias estátuas.

Castelo de Vadjahynyad sobre o lago - Budapeste, Hungria

Contornámos um pequeno lago que ali há para alcançar a avenida Andrássy.



A avenida é um eixo histórico da cidade que une o parque à Praça Isabel junto ao rio. Inicia do lado do parque na Praça do Heróis onde se encontra o colossal monumento do Memorial do Milénio. A construção deste monumento decorreu entre 1896 e 1929, tendo iniciado por ocasião dos mil anos da Hungria. Nele estão representados por estátuas os líderes das sete tribos magiares que fundaram a Hungria no século IX e ainda algumas personalidades importantes da história húngara. Fotos de jeito é que não deu para tirar, pois estava um arraial montado para o campeonato europeu de futebol… Este pessoal vibra a montes com a bola.

Descemos a avenida apreciando a fartura de palácios e edifícios históricos que existem em seu redor.



Alguns estavam francamente a precisar de restauro.







Passámos pela Casa do Terror, um museu que pretende recordar as vitimas e atrocidades cometidas pelos regimes fascistas e comunistas na Hungria durante o século XX.



Retratos das vítimas imortalizados em redor da Casa do Terror - Budapeste, Hungria

Mais abaixo, já próximo do centro começam as lojas de moda afamadas, como D&G, Louis Vuitton, Armani e Gucci. Também por aí vimos o belíssimo edifício da Ópera.

Ópera - Budapeste, Hungria

Daí seguimos até à Basílica de Santo Estevão, um templo de dimensões monumentais.

Basílica de Santo Estevão - Budapeste, Hungria

 Um interior lindíssimo e um nível de opulência a condizer com a importância do monumento.

Interior da Basílica a mais de 110º - Budapeste, Hungria





Depois direcção ao rio, passando pelo controverso monumento às vítimas da Segunda Guerra Mundial na Praça da Liberdade.



A inauguração deste monumento em 2014 esteve envolta numa extrema polémica. Este memorial apresenta a Hungria como um anjo a ser atacada por uma águia negra alemã, o que parece querer absolver os Húngaros do seu papel durante a guerra.



Historicamente a Hungria foi um aliado próximo de Hitler e estima-se que tenha deportado à sua conta cerca de 450.000 judeus para os campos de extermínio.



Polémica à parte, o memorial atrai uma série de gente, nem que seja pela série de repuxos dispostos num quadrado que fecham automaticamente quando alguém se aproxima. Aquilo é a alegria da malta nova.

Já a chegar próximo do rio, o parlamento. Outro edifício grandioso e carismático da capital, com uma das frentes está virada para o rio.



Pesquisando por Budapeste é uma das imagens que mais surge. Junto a este, mas na face oposta ao rio existe um espaço ajardinado com um estandarte guardado por dois militares.



Ao estilo da guarda inglesa os tipos estão num estado de total abstracção de tudo o que esta à volta deles. De tempo a tempo, carregam a arma ao ombro e dão, em passo de marcha, uma ou duas voltas à bandeira. Depois voltam às posições de guarda e ali ficam sem pestanejar. Eu até gosto de disciplina, mas confesso que nunca entendi o porquê das encenações militares sofridas, que roçam por vezes a tolice.





Contornámos o majestoso edifício e descemos para o rio.

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